Volumes recordes de importação, fortes fatores econômicos, conflito e incerteza inflacionária
*Por Chris Jones
A crise global de transporte se estendeu por mais um mês. O mês de fevereiro de 2022 começou com volumes recordes de importação de contêineres em relação a 2021. Este mês foi consistente com as expectativas da comunidade de logística sobre forte demanda e reservas em 2022. A economia e as contratações também continuam fortes.
Os dados de gastos do consumidor mostram uma alta demanda contínua por bens e atividades de supply chain. A inflação e o conflito Rússia/Ucrânia podem ser os fatores que deprimem o aumento da demanda do consumidor, mas é muito cedo para dizer. A atualização de março com métricas econômicas e logísticas de Descartes apontam para um impacto sustentado nos mercados globais de supply chain.
Fevereiro continuou a tendência do mês recorde para o volume de importação de contêineres dos EUA.
O mês de fevereiro deu continuidade ao forte início de 2022 com outro recorde para o volume de importação de contêineres (veja a Figura 1). O volume de importação de contêineres caiu 3% em relação a janeiro de 2022, mas aumentou 12% em relação a janeiro de 2021 e 38% em relação a fevereiro de 2020. Considerando que fevereiro deste ano foi 3 dias menor que janeiro, o que equivale a 9,7% menos dias para processar embarques, foi na verdade, um mês de importação mais forte do que janeiro. Um fator que pode estar impulsionando os altos volumes de fevereiro é que os importadores estão acelerando seus embarques antes de quaisquer problemas que possam surgir das negociações da International Longshore and Warehouse Union, instituição que representa os estivadores da costa oeste dos Estados Unidos, Havaí e da Colúmbia Britânica, Canadá(ILWU). Além disso, mais um mês que excede efetivamente a marca de importação de 2,4 milhões de contêineres indica que as interrupções crônicas no supply chain (por exemplo, atrasos, variabilidade etc.) que os importadores e a comunidade de logística estão enfrentando não estão diminuindo no curto prazo.
Figura 1: Comparação ano a ano do volume de importação de contêineres dos EUA
Fonte: Descartes Datamyne™
A mudança da costa oeste para leste continua
Importadores e provedores de serviços de logística, continuam a desviar o volume dos principais portos da Costa Oeste. A comparação dos 5 principais portos da Costa Oeste frente os 5 principais portos da Costa Leste em fevereiro de 2022 versus maio de 2021 mostra que, do volume total de contêineres de importação, os portos da Costa Leste agora representam 44,0% das importações, enquanto os portos da Costa Oeste representam 42,6%. Em maio de 2021, a divisão foi de 47,4% para a Costa Oeste e 39,5% para a Costa Leste. Todos os principais portos da Costa Oeste diminuíram em volume, enquanto todos os principais portos da Costa Leste aumentaram (veja a Figura 2). O Porto de Los Angeles corrigiu seu declínio de três meses no processamento de importação de contêineres e passou para o primeiro lugar em 409.464, ainda abaixo do recorde de 530.432 em maio de 2021.
Figura 2: Mudança de Volume de Importação de Contêiner dos 10 Principais Portos
Fonte: Descartes Datamyne
Melhoria contínua e mais forte na relação Estoque de Varejo sobre Vendas.
O estoque de varejo do Federal Reserve Economic Data (Banco de dados mantido pela divisão de Pesquisa do Federal Reserve Bank de St. Louis que possui mais de 816.000 séries temporais econômicas de diversas fontes), em relação às vendas mostrou uma melhoria mais significativa (veja a Figura 3) de 0,08 para 1,16 para a atualização mais recente (31 de dezembro de 2021). A relação entre estoque de varejo e vendas é um indicador importante na capacidade dos varejistas de manter as mercadorias nas prateleiras físicas ou virtuais. A proporção melhorou, mas ainda é relativamente baixa em comparação com os números pré-pandemia. Os volumes recordes contínuos de importação de contêineres dos EUA podem ser uma das razões pelas quais a proporção melhorou à medida que os varejistas tentam recuperar de forma mensurável as posições de estoque esgotadas.
Figura 3: Varejistas FRED: Relação Estoque/Vendas
O aumento na demanda do consumidor e outro forte relatório de empregos colocam mais pressão no mercado de supply chain.
A compra de mercadorias pelos consumidores é um dos fatores mais significativos dos altos volumes de importação e dos desafios logísticos globais. A proporção de gastos pessoais de bens e serviços reverteu o curso e aumentou 2,4% para 54,0% (veja a Figura 4) para a data mais recente de 1º de janeiro de 2022. Uma análise dos dados mostra que o consumo pessoal aumentou em todas as três categorias – bens, bens não duráveis e serviços – num total de 2%; no entanto, as compras de bens duráveis aumentaram 9,7%. O declínio da variante Omicron a tornou mais um incômodo do que um fator determinante que afeta as compras ou a velocidade do supply chain.
Outro indicador de uma economia forte e contínua: maior demanda por bens e atividades relacionadas ao mercado supply chain é a taxa de desemprego do Federal Reserve. O relatório de empregos do início de março mostrou uma queda nos trabalhadores desempregados de 0,2% para 3,8%, revertendo o documento de fevereiro que apresentou um ligeiro aumento e traduziu em 678.000 empregos criados — também significativamente mais do que o esperado. A taxa de desemprego continua a se aproximar da pré-pandemia de fevereiro de 2020 e da baixa histórica não relacionada à guerra de 3,5%.
Figura 4: Métricas de consumo pessoal
Fonte: U.S. Federal Reserve Economic Data & Descartes
O que poderia retardar este momento? A inflação e o conflito Rússia/Ucrânia podem.
Uma economia forte e um ambiente de contratação são a força por trás da demanda recorde por bens de consumo e os volumes de importação que os EUA estão experimentando; no entanto, não há bens suficientes para atender à demanda e a inflação está em alta desde meados de 2021. Os preços ao consumidor de fevereiro de 2022 foram 7,9% mais altos do que no mesmo período de 2021 e os mais altos desde janeiro de 1982, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA. No entanto, como mostram os gastos com bens de consumo divulgados em 1º de janeiro, o atual nível de inflação pode não ser suficiente para reduzir os gastos e diminuir os volumes de importação.
A energia foi citada como um fator de inflação significativo e é aí que o conflito Rússia/Ucrânia pode acelerar a inflação e ajudar a desacelerar a demanda do consumidor. O petróleo russo representa aproximadamente 8,6% do total de petróleo consumido nos EUA, de acordo com a Agência Internacional de Energia. A decisão do governo Biden de parar de importar petróleo russo vai apertar o mercado de combustíveis. Isso foi antecipado no mercado, já que os preços da gasolina aumentaram 50 centavos por galão apenas na primeira semana de março, de acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA. Além disso, de acordo com a Ship & Bunker (site focado no segmento), as transportadoras marítimas estão observando custos recordes de combustível de quase US$ 1.000 para óleo combustível com muito baixo teor de enxofre (VLSFO).
Outro fator a considerar é o impacto das sanções que estão sendo aplicadas à Rússia, Bielorrússia e às partes separatistas da Ucrânia. As sanções se aplicam não apenas a essas regiões, mas também a empresas e pessoas específicas. O impacto dessas sanções não se limita à região do conflito e, em muitos casos, se aplica globalmente. Embora a Rússia, em particular, tenha uma postura mais intermediária no comércio global, o impacto das sanções em setores específicos pode ser significativo.
O que podemos esperar em 2022.
A grande questão nas mentes dos importadores e provedores de serviços de logística é quando, ou se, ocorrerá um declínio no volume de importação em 2022. Além disso, vários eventos únicos significativos podem exacerbar a capacidade de movimentar mercadorias globalmente. Aqui está o que a Descartes estará acompanhando:
- Volumes mensais de TEU (unidade Equivalente de Transporte) entre 2,4M e 2,6M. Este nível consistentemente alto continuará a estressar os portos e a logística terrestre até que a infraestrutura possa ser aprimorada. O volume de importação de contêineres de fevereiro ficou ligeiramente abaixo de 2,4 milhões de TEUs, mas significativamente maior do que qualquer outro fevereiro no passado.
- Tempos de espera no porto. Se eles diminuírem, é uma indicação de capacidades aprimoradas de processamento portuário ou que a demanda por bens e serviços de logística está diminuindo. A partir do início de março, eles não estão diminuindo.
- Inventário Federal Reserve Economic Data para Razão de Vendas. Os varejistas ainda sofrem com situações de falta de estoque e desejam cada vez mais produtos devido à variabilidade da disponibilidade. Se a proporção não aumentar, significa que os varejistas não estão alcançando e a demanda por bens e serviços de logística será inflada. Fevereiro teve boa melhora, mas a relação ainda tem um caminho a percorrer para atingir os números pré-pandemia.
- Relação bens/serviços e gastos. Esta é a raiz da situação atual. Se a pandemia continuar a reduzir os gastos com serviços pelos consumidores e a economia permanecer forte, a “economia das coisas” continuará a aumentar os volumes de importação. Os números mais recentes mostram aumento das compras, principalmente de bens duráveis. Os ganhos de empregos de fevereiro apontam para um potencial de mais gastos do consumidor no futuro.
- Impacto contínuo da pandemia. Novas variantes estão gerando ondas de choque no mercado de supply chain. Sejam cidades na China em bloqueio total, faixas de funcionários doentes ou restrições baseadas no país, a falta de recursos restringirá a capacidade de recuperação das cadeias de suprimentos. O impacto do COVID diminuiu significativamente em fevereiro, principalmente na América do Norte e na Europa Ocidental.
- Negociações de contrato ILWU. As negociações podem ser tranquilas ou podem virar as operações portuárias e o segmento de supply chain de cabeça para baixo no primeiro semestre de 2022 e possivelmente além. Nenhuma mudança em fevereiro.
- Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022. Vindo logo após o Ano Novo Lunar chinês, o desejo da China de reduzir a poluição pode diminuir as operações de fabricação e logística e reduzir a capacidade dos Importadores e provedores de serviços de logística de utilizarem a temporada de importação de volume tradicionalmente menor para recuperar o atraso. Os volumes de importação de contêineres de fevereiro não mostraram sinais de impacto da combinação do Ano Novo Lunar chinês e das Olimpíadas de Pequim.
- A inflação e o conflito Rússia/Ucrânia. A inflação pode ser a única maneira de desacelerar a forte economia dos EUA e, em última análise, ajudar a aliviar os problemas relacionados à capacidade logística global que existem. O conflito Rússia/Ucrânia já está deixando sua marca nos custos de combustível no início de março.
Não há sinais concretos de uma interrupção na ação. Os volumes de importação de contêineres dos EUA em fevereiro foram outro recorde. Outros fatores importantes, como as despesas mais recentes do consumidor e os números de empregos, apontam para níveis elevados contínuos de demanda por bens e, portanto, atividade do mercado de supply chain. Esses dados reafirmam que levará algum tempo até que a pressão no mercado e nas operações de logística comece a aumentar. Os curingas são a inflação e o impacto do conflito Rússia/Ucrânia. A Descartes continuará a apresentar os principais dados da Descartes Datamyne, do governo dos EUA e da indústria nos próximos meses para fornecer informações sobre a crise global de transporte. Nossas perspectivas e recomendações atuais permanecem praticamente inalteradas, com exceção de uma nova recomendação de curto prazo abaixo:
Curto prazo:
- Avaliar o impacto da inflação e do conflito Rússia/Ucrânia nos custos logísticos e nas restrições de capacidade. Certifique-se de que os principais parceiros comerciais não estejam nas listas de sanções.
- Capacidade de envio limitada? Racionalize SKUs para enviar mercadorias com maior velocidade e margem para maximizar a lucratividade.
- Concentre-se em manter os recursos do supply chain que você possui, especialmente os motoristas. O velho ditado “mais vale um pássaro na mão do que dois voando” definitivamente se aplica aqui. Construir viagens para reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida para reter os motoristas é agora tão ou mais importante do que os aumentos salariais.
- Acelere o estoque que chega pelos portos da Costa Oeste agora ou use portos alternativos como proteção contra as próximas negociações de contrato ILWU.
Médio Prazo:
- Altere o movimento de mercadorias para vias de transporte menos congestionadas para melhorar a velocidade e a confiabilidade do supply chain. O tempo total de trânsito é importante, mas também a previsibilidade é fundamental. Avalie as vias de transporte alternativas para os EUA, incluindo a entrada pelas fronteiras norte e sul e portos interiores.
Longo Prazo
- Avalie a densidade de localização de fornecedores e fábricas para mitigar a dependência de rotas comerciais sobrecarregadas e regiões que são potenciais de conflito. A densidade cria economia de escala, mas também risco, e pandemia e a subsequente crise de capacidade logística destacam o lado negativo. Os conflitos não acontecem “da noite para o dia”, então agora é a hora de resolver esse problema potencialmente disruptivo nos negócios.
Como Descartes pode contribuir para este momento
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